Texto 01
Corpo,
constante aprendizagem do que é o controle. Controle de um instrumento de
início, meio e sem fim. Fim de um reflexo de reflexão, onde a imagem mostra o
não e o sim sou sem saber.
Texto 02
Meu corpo é vermelho, mais vermelho por
dentro, cheio de vísceras, vícios.
Uma dor rígida, um preguiçoso, um nojento,
corpo de partes que com suas partes não sente. Quando se atira, descansa. Um
descanso quente, um calar quente um corpo quente que se entrega.
Só o pensamento se sente livre pra desejar,
mas as vezes ele pede pra eu ter um pouco de pausa. E eu... Eu não consigo.
Texto 03
Meu corpo é
feito de partes rígidas e móveis.
Meu corpo sente desejo de mais, sempre, não
sei como... Queijo, bicicleta, elefante,tiroteio, falta de espaço, caramba.
Meu corpo pensa que: é louco e que pode ser
controlado, ou não. O que será que ele pensa mesmo?
Tem medo
de: Morrer, de fazer, de ser, de se libertar por completo.
Quando eu
me toco: Me excito, me desejo,
Por isso meu
corpo deseja que você espere, demore, respire fundo, queira mais, me satisfaça,
porque quando termina e que sinto que vai começar e se conectar, e que vou ser
livre de pra me esconder.
Texto 04
Meu corpo é
vulnerável e hipócrita se converte e se convence, exala e inala, corpo de
emoção e neutralidade dá vazão a razão ao vazio.
Meu corpo
tem conceito e valores, se transforma se organiza e se destrói.
Texto 05
Eu sou
interrogação, sou sem resposta, sem finalização.
Sou corpo
que se regenera, se desintegra e volta ao ponto ,ao nascimento.
Corpo,
corpo, corpo de luz, celeste, sem vergonha, de ter cerimônia, de borbulhar, de
queimar. Corpo que esfria espinha,doce, ardente, corpo estranho, que conheço.
Corpo meu, o corpo que domina o corpo.
Texto 06
Meu corpo é
explosão, é máquina perfeita de mistério, carrega uma bomba ritmada, tic-tac,
tic-tac, ou tum-tum, tum-tum. A bomba que estoura a vida, que define a morte, a
bomba da alma.
Texto 07
Ele não
aguenta, não reage, não sabe perguntar, não quer perguntar. Porque sabe que não
tem resposta, porque sabe o quanto é infinito até que dure.
Meu corpo finda, porque tem início, meio e não
tem fim.
Meu corpo é minucioso, tenso, acha que pode e
que não pode que está certo e errado que pode se exibir e se esconder em
camadas entranhadas na pele.
Texto 08
É medroso, é tudo, é fraco, é nada,
é vida
morta, é morte viva.
Não sabe o
que diz, nunca está satisfeito.
Corpo
confuso ligado por elos. A ligação mais perfeita de universo, ele é o próprio
universo, que recomeça, recomeça, recomeça, capaz de gerar e de se regenerar.
Texto 09
Meu corpo é
obvio,
meu corpo
me permite permitir,
me impede
de impedir,
me permite
impedir
e me impede
permitir.
Meu corpo é
simples, significa
O meu corpo
significa. Me permite o equilíbrio.
É tudo, é nada que quero que signifique.
Esse é meu
corpo. Corpo que não define meu corpo.
Texto 10
Meu corpo
me permite continuar,
ainda que não consiga,
ainda que
eu não queira,
ainda que
seja inútil,
O meu corpo
me permite
ainda que retroceda.
O meu corpo
me permite ir
Texto 11
Minha casa
é longa e consigo ver um corredor sem fim. Escuto portas batendo num silencio
ensurdecedor, tudo é redondo, estou tonta, é um labirinto de ratos.
Texto 12
Eu era
pequena, franzina, brincava na rua, subia em árvores, andava de bicicleta.
Gostava muito de andar de bicicleta. Na verdade o que eu mais gostava era de
andar de bicicleta. Não sabia porque mas me dava um prazer dando, diferente,
estranho, gostoso e por mais que eu fosse ingênua, não era pelo vento no cabelo
ou a sensação de liberdade, mais eu sabia que tinha que descobrir um pouco mais
daquilo que meu corpo queria me contar. Já ouviu falar no ditado de quem
procura acha¿ Eu achei todas as maneiras, achei o caminho e o percurso
direitinho.
Meu cabelo
Minha
orelha
Minha nuca
Meus ombros
Minha costa
Meus seios
Minha
barriga
Minha bunda
Minha
vagina
Minhas
pernas
E até meus
pés
Meu corpo
todo de cima pra baixo e vice-versa.
Quando me
desse vontade, descobrir o meu corpo é um percurso infinito.
Meu corpo
me faz egoísta e acho as vezes que não preciso de ninguém.
Texto 13
A minha
memória é a minha carne, a minha mente é sacrificada e a minha carne tem
desequilíbrio. Eu sou isso carne podre, jogada na rua aos ventos, aos porcos e
pombos, sou igual a eles, Nada.
Ao
contrário do nada, sou tudo que eles tem.
Minha carne
pensa, minha mente dói.
Eu sou
carne.
Eu sou
mente. Eu sou eu.
Texto 14
Minha carne
é gorda, elástica e cheia de cicatrizes.
E quando eu
aperto olho e estico.
Eu sinto
como se fosse nojento, rasgar, reviver.
Dizem que a
carne é a matéria em oposição ao espírito e a alma.
A minha
carne vai alem disso, é história e quando eu toco, sinto como se fosse mentira,
verdade, como se fosse tudo que eu tenho.
Texto 15
A minha
vida inteira eu só fiz apanhar. Falar de surra para mim é fácil, porque eu
posso escolher, se eu fosse contar cada uma passaria o dia todo aqui. Mais tem
uma que dói até hoje, feridas que não cicatrizam. Um dia, um amor e uma barra
de ferro, eu apanhava mais não sabia por quê. Uma surra conversada. (Não faço
mais, juro que não faço mais, me desculpa). Os vizinhos ouvião atrás do muro o
socorro tão perto e tão longe.
Meu filho
assistia, o corpo não reagia mais, a voz adormecida não doía mais ( não dói,
pode bater que não dói, anda bate!). Ouve um beijo para cada hematoma,
lavei-me, a água caia em um misto de limpeza e ardor. Junto do choro eu engolia
o castigo sem ideia de qual era a lição de que eu deveria ter aprendido. Dizem
que quando alguém bate é porque ela queria muito tocar essa pessoa, mas não
sabe como.... e até hoje é como se cada toque que recebo, pudesse me machucar.
Texto 16
Não se
curem além da conta, pessoa que é muito curada é pessoa muito chata. Na verdade,
na verdade todo mundo é um pouco doido. Ei, ei, vocês, vocês mesmo, posso fazer
um pedido¿ tentem viver a imaginação, pois ela é nossa realidade mais intensa,
mais longe da abertura. Felizmente eu nunca convivi com gente de muito juízo,
acho que pra não querer ficar louca. Meu tronco já não me sustenta mais. Ei,
ei, é você mesmo, cata estas folhas do alto desse chão....
Texto 17
Eita
naquele dia quase que o carro passa por cima de mim.
Na minha
época de loucura tinha menos folhas aqui.
Quem disse
que meu corpo não tem cabeça, tem e é grande e não é cheia de vento não, é de
pensamento.
A carne
mais barata desse lugar aqui é a carne negra né¿ E a minha, e a dela, é mais
caro por quê? Quem é melhor do que quem nessa carne igual¿ o meu sangue faz a
mesma viagem e é encarnado do mesmo jeito. O mais caro aqui é a injustiça que
tenho que carregar nas minhas costas lascadas.
Quem disse
que a minha cicatriz pra ser cicatriz tem que ficar exposta, o que dói ta
dentro de mim.
Mais o que
me alegra mesmo é falar pra ela
Me faça de
novo que eu já não existo mais.
Texto 18
E a fumaça
se empreguinava em minha face.
Minha carne pesou que caiu e não há mais tempo
que levante a história de minha pele
As veias de
expressão se confundem com as linhas de sangue
Hoje sou
ausente aos olhos de quem está a minha volta, não tenho voz, mas tenho o cheiro
que incomoda e só faço ouvidos quando sou o silencio.
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