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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Textos da Lucélia



Texto 01
Corpo, constante aprendizagem do que é o controle. Controle de um instrumento de início, meio e sem fim. Fim de um reflexo de reflexão, onde a imagem mostra o não e o sim sou sem saber.

Texto 02
 Meu corpo é vermelho, mais vermelho por dentro, cheio de vísceras, vícios.
 Uma dor rígida, um preguiçoso, um nojento, corpo de partes que com suas partes não sente. Quando se atira, descansa. Um descanso quente, um calar quente um corpo quente que se entrega.
 Só o pensamento se sente livre pra desejar, mas as vezes ele pede pra eu ter um pouco de pausa. E eu... Eu não consigo.

Texto 03
Meu corpo é feito de partes rígidas e móveis.
 Meu corpo sente desejo de mais, sempre, não sei como... Queijo, bicicleta, elefante,tiroteio, falta de espaço, caramba.
 Meu corpo pensa que: é louco e que pode ser controlado, ou não. O que será que ele pensa mesmo?
Tem medo de: Morrer, de fazer, de ser, de se libertar por completo.
Quando eu me toco: Me excito, me desejo,
Por isso meu corpo deseja que você espere, demore, respire fundo, queira mais, me satisfaça, porque quando termina e que sinto que vai começar e se conectar, e que vou ser livre de pra me esconder.

Texto 04
Meu corpo é vulnerável e hipócrita se converte e se convence, exala e inala, corpo de emoção e neutralidade dá vazão a razão ao vazio.
Meu corpo tem conceito e valores, se transforma se organiza e se destrói.

Texto 05
Eu sou interrogação, sou sem resposta, sem finalização.
Sou corpo que se regenera, se desintegra e volta ao ponto ,ao nascimento.
Corpo, corpo, corpo de luz, celeste, sem vergonha, de ter cerimônia, de borbulhar, de queimar. Corpo que esfria espinha,doce, ardente, corpo estranho, que conheço. Corpo meu, o corpo que domina o corpo.

Texto 06
Meu corpo é explosão, é máquina perfeita de mistério, carrega uma bomba ritmada, tic-tac, tic-tac, ou tum-tum, tum-tum. A bomba que estoura a vida, que define a morte, a bomba da alma.

Texto 07
Ele não aguenta, não reage, não sabe perguntar, não quer perguntar. Porque sabe que não tem resposta, porque sabe o quanto é infinito até que dure.
 Meu corpo finda, porque tem início, meio e não tem fim.
 Meu corpo é minucioso, tenso, acha que pode e que não pode que está certo e errado que pode se exibir e se esconder em camadas entranhadas na pele.

Texto 08
 É medroso, é tudo, é fraco, é nada,
é vida morta, é morte viva.
Não sabe o que diz, nunca está satisfeito.
Corpo confuso ligado por elos. A ligação mais perfeita de universo, ele é o próprio universo, que recomeça, recomeça, recomeça, capaz de gerar e de se regenerar.

Texto 09
Meu corpo é obvio,
meu corpo me permite permitir,
me impede de impedir,
me permite impedir
e me impede permitir.
Meu corpo é simples, significa
O meu corpo significa. Me permite o equilíbrio.
 É tudo, é nada que quero que signifique.
Esse é meu corpo. Corpo que não define meu corpo.

Texto 10
Meu corpo me permite continuar,
 ainda que não consiga,
ainda que eu não queira,
ainda que seja inútil,
O meu corpo me permite
 ainda que retroceda.
O meu corpo me permite ir

Texto 11
Minha casa é longa e consigo ver um corredor sem fim. Escuto portas batendo num silencio ensurdecedor, tudo é redondo, estou tonta, é um labirinto de ratos.

Texto 12
Eu era pequena, franzina, brincava na rua, subia em árvores, andava de bicicleta. Gostava muito de andar de bicicleta. Na verdade o que eu mais gostava era de andar de bicicleta. Não sabia porque mas me dava um prazer dando, diferente, estranho, gostoso e por mais que eu fosse ingênua, não era pelo vento no cabelo ou a sensação de liberdade, mais eu sabia que tinha que descobrir um pouco mais daquilo que meu corpo queria me contar. Já ouviu falar no ditado de quem procura acha¿ Eu achei todas as maneiras, achei o caminho e o percurso direitinho.
Meu cabelo
Minha orelha
Minha nuca
Meus ombros
Minha costa
Meus seios
Minha barriga
Minha bunda
Minha vagina
Minhas pernas
E até meus pés
Meu corpo todo de cima pra baixo e vice-versa.
Quando me desse vontade, descobrir o meu corpo é um percurso infinito.
Meu corpo me faz egoísta e acho as vezes que não preciso de ninguém.

Texto 13
A minha memória é a minha carne, a minha mente é sacrificada e a minha carne tem desequilíbrio. Eu sou isso carne podre, jogada na rua aos ventos, aos porcos e pombos, sou igual a eles, Nada.
Ao contrário do nada, sou tudo que eles tem.
Minha carne pensa, minha mente dói.
Eu sou carne.
Eu sou mente. Eu sou eu.

Texto 14
Minha carne é gorda, elástica e cheia de cicatrizes.
E quando eu aperto olho e estico.
Eu sinto como se fosse nojento, rasgar, reviver.
Dizem que a carne é a matéria em oposição ao espírito e a alma.
A minha carne vai alem disso, é história e quando eu toco, sinto como se fosse mentira, verdade, como se fosse tudo que eu tenho.

Texto 15
A minha vida inteira eu só fiz apanhar. Falar de surra para mim é fácil, porque eu posso escolher, se eu fosse contar cada uma passaria o dia todo aqui. Mais tem uma que dói até hoje, feridas que não cicatrizam. Um dia, um amor e uma barra de ferro, eu apanhava mais não sabia por quê. Uma surra conversada. (Não faço mais, juro que não faço mais, me desculpa). Os vizinhos ouvião atrás do muro o socorro tão perto e tão longe.
Meu filho assistia, o corpo não reagia mais, a voz adormecida não doía mais ( não dói, pode bater que não dói, anda bate!). Ouve um beijo para cada hematoma, lavei-me, a água caia em um misto de limpeza e ardor. Junto do choro eu engolia o castigo sem ideia de qual era a lição de que eu deveria ter aprendido. Dizem que quando alguém bate é porque ela queria muito tocar essa pessoa, mas não sabe como.... e até hoje é como se cada toque que recebo, pudesse me machucar.

Texto 16
Não se curem além da conta, pessoa que é muito curada é pessoa muito chata. Na verdade, na verdade todo mundo é um pouco doido. Ei, ei, vocês, vocês mesmo, posso fazer um pedido¿ tentem viver a imaginação, pois ela é nossa realidade mais intensa, mais longe da abertura. Felizmente eu nunca convivi com gente de muito juízo, acho que pra não querer ficar louca. Meu tronco já não me sustenta mais. Ei, ei, é você mesmo, cata estas folhas do alto desse chão....

Texto 17
Eita naquele dia quase que o carro passa por cima de mim.
Na minha época de loucura tinha menos folhas aqui.
Quem disse que meu corpo não tem cabeça, tem e é grande e não é cheia de vento não, é de pensamento.
A carne mais barata desse lugar aqui é a carne negra né¿ E a minha, e a dela, é mais caro por quê? Quem é melhor do que quem nessa carne igual¿ o meu sangue faz a mesma viagem e é encarnado do mesmo jeito. O mais caro aqui é a injustiça que tenho que carregar nas minhas costas lascadas.
Quem disse que a minha cicatriz pra ser cicatriz tem que ficar exposta, o que dói ta dentro de mim.
Mais o que me alegra mesmo é falar pra ela
Me faça de novo que eu já não existo mais.

Texto 18
E a fumaça se empreguinava em minha face.
 Minha carne pesou que caiu e não há mais tempo que levante a história de minha pele
As veias de expressão se confundem com as linhas de sangue
Hoje sou ausente aos olhos de quem está a minha volta, não tenho voz, mas tenho o cheiro que incomoda e só faço ouvidos quando sou o silencio.

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